sexta-feira, 14 de março de 2014



Lançamento de livro afro movimenta Poder Legislativo

O professor Délio Pinheiro representou o presidente Marcelo Nilo na cerimônia de ontem

Deraldo Damasceno aproveitou para elogiar o programa editorial da Assembleia

O Saguão Nestor Duarte recebeu representantes de mais de 20 terreiros

Aristides Mascarenhas, o pai Ari, autografou o livro "A raiz do Ilé Asè Opô Ajagunã"
O lançamento do livro "A Raiz do Ilé Asè Apô Ajagunã", escrito pelo babalorixá Aristides de Oliveira Mascarenhas, o pai Ari, ontem, movimentou a Assembleia Legislativa, que viveu um final de tarde diferente. Em vez dos ternos e gravatas, predominou a colorida indumentária dos pais, mães e filhos de santo presentes, representantes de 21 terreiros da Bahia e dois de Portugal. Música ijexá, um grupo tocando o rum, o rumpi e o lé, os três atabaques usados nos toques rituais dos terreiros, e comida afro oferecida aos presentes por baianas trajadas a rigor completaram a cena.
Responsável pela apresentação dessa obra para o parlamento, o deputado Deraldo Damasceno (PSL) manifestou a sua alegria pessoal pelo resultado do trabalho, parabenizando "todos os irmãos aqui presentes ou representados e disse que se sentia como se todos tivessem chegado ao Brasil no mesmo navio" por mais essa conquista. Referência direta ao flagelo da escravidão e à perseguição que as religiões de matriz africana sofriam na Bahia até meados do século passado. Foi um discurso empolgante em defesa da tolerância religiosa, do não dogmatismo e do sincretismo "tão presente em nossa terra que é comum encontrar tanto uma filha de santo rezando na Igreja do Bonfim quanto um católico oferecendo um caruru de promessa pelo atendimento de alguma graça".
LAICIDADE

 


Religioso, defendeu o Estado laico, que separa as denominações religiosas do Estado e impede o país de ter uma religião oficial, sendo o Estado obrigado a respeitar o direito fundamental de cada brasileiro de professar (ou não) qualquer religião e oferecer os esclarecimentos de que a população necessitar. Para Deraldo Damasceno, a forte devoção dos baianos, a mistura do sagrado com o profano e o impacto das tradições africanas é que fazem a nossa cultura ser tão bonita. Ele lembra que nunca existiu comunidade humana que não tenha adorado a algum deus e cultuado alguma expressão religiosa na história humana.
Aproveitou para elogiar o programa editorial do Legislativo e a cumprimentar as duas dezenas de representantes de terreiros presentes, lembrando ainda a importância do trabalho do pai Ari, que há 16 anos é presidente da Federação Brasileira do Culto Afro-Brasileiro, autor de outro importante livro – "Código Nacional Litúrgico das Religiões Afro-Brasileiras" – e babalorixá há 20 anos, também homenageado pela Câmara Municipal de Salvador com a Medalha Dois de Julho. Foi interrompido quatro vezes por palmas.
O autor Aristides Mascarenhas, o pai Ari, quase não conteve a emoção ao agradecer aos deputados Marcelo Nilo e Deraldo Damasceno, esclarecendo que o livro "A Raiz do Ilé Asè Apô Ajagunã" tem caráter didático e foi escrito em português para facilitar o entendimento dos não iniciados nos diversos dialetos falados pelas nações africanas trazidas para a Bahia. Ele entende que a distribuição desse material para bibliotecas escolares gratuitamente é um sonho, pois permitirá a nossos irmãos, o povo de santo, do axé, mas também a professantes de outras crenças conhecer a nossa religião.
"Não se trata de jogar o sagrado na rua, mas de registrar também a história do nosso povo", frisou. Para pai Ari, novos tempos de fato estão acontecendo, pois temos a nossa "Mãe Stella de Oxossi na Academia de Letras" e conseguimos a aprovação nesta Casa da lei de projeto de número 12.950, de 14 de fevereiro, que tornou o dia 14 de novembro como "Dia de Santo", um pleito dos religiosos de matriz africana e que me permite dizer aqui: "Hoje nós, o povo de santo, temos lei." Foi longamente aplaudido e saudado pelos atabaques rituais, demorando-se ao ler a longa relação de terreiros presentes e a agradecer as presenças. Depois de sua fala, o cantor de ijexá James Rios cantou uma série de músicas de cunho religioso, começando por É D’Oxum, de Gerônimo e Vevé Calazans. A longa fila de autógrafos só foi encerrada duas horas depois, sendo servidos aos presentes abarás, acarajés e outros petiscos afros pelas quatro baianas trazidas por pai Ari.
"A Raiz do Ilé Asè Apô Ajagunã" é o quarto livro lançado pelo programa editorial da Casa nos últimos sete anos, informou às mais de 300 pessoas presentes ao Saguão Nestor Duarte o representante do presidente Marcelo Nilo na cerimônia, professor Délio Pinheiro. Inaugurou a série o livro "O Leque de Oxum", de Vasconcelos Maia, seguido de duas obras da iyalorixá Mãe Stella de Oxóssi, do Ilê Axé Opô Afonjá – "Meu Tempo é Agora" e "Ofún". Ele é assessor da Assembleia para assuntos de cultura e também discorreu sobre a pujança e o volume das Edições Alba. Informou que o número de livros lançados nos últimos sete anos chegou à marca de 126 e "isto não é pouco, pois significa que a cada 20 dias o Legislativo colocou no mercado uma nova obra". Livros que são distribuídos gratuitamente para bibliotecas e instituições públicas e privadas.
O professor Délio Pinheiro acrescentou que esse programa editorial ganhou musculatura nas gestões do presidente Marcelo Nilo, quando ultrapassou o seu escopo inicial de mera peça de marketing para se transformar em ferramenta de fortalecimento da cultura baiana. Daí a aproximação da Casa de instituições como a Academia de Letras da Bahia, a Casa de Jorge Amado, a Associação Comercial da Bahia, a Universidade Estadual do Sudoeste, a Universidade Federal da Bahia e, em breve, o Instituto Geográfico e Histórico.

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